Cine DLA e CineCom: projetos que pensam a cultura a partir do cinema

22 de setembro de 2017


O que é Cultura? Modos de viver e de estar em sociedade? A produção de representações por meio de expressões artísticas? Um conceito estático ou que tem certa flexibilidade? Em setembro, o Projeção Virtual tentará responder esta pergunta. Conversaremos com os responsáveis por diversos projetos e programas de extensão na UFV para conhecermos suas concepções sobre cultura e traçarmos um diagnóstico do que a extensão na Universidade Federal de Viçosa tem produzido em relação a este termo. Nos textos anteriores da série, você pode conhecer o projeto Sarauzinho Literário (disponível clicando aqui) e o programa RedeMoinhos (disponível clicando aqui).

Um povo consegue expressar sua cultura através de produções artísticas, como a literatura, a música e o cinema. Mesmo obras de ficção trazem elementos e símbolos que nos fazem entender ou compreender uma sociedade e seus modelos. O cinema, por exemplo, se aproxima da realidade não somente por ter uma qualidade cada vez maior de imagem e som, mas também por apresentar temas, espaços e histórias que perpassam a cultura. Considerada a sétima arte, por ser uma das formas de expressões mais recentes, criadas somente no fim do século XIX, o cinema apresenta formas de convivência de um grupo, as paisagens de um país, os problemas de uma comunidade…

Muitas vezes, o que chega destas produções até o grande público é uma quantidade limitada, que costuma reproduzir os mesmos estereótipos ou representar os mesmos grupos – como evidenciamos no texto anterior (disponível clicando aqui). Na UFV, esta expressão cultural pode ser experenciada de uma maneira diferente por meio dos projetos Cine DLA e  CineCom – Cinema e Cultura para Viçosa.

Criado há sete anos, o Cine DLA apresenta sessões de filmes gratuitas para a comunidade viçosense, no Cine Carcará. Os filmes exibidos, escolhidos pela equipe do projeto, tentam fugir do âmbito mercadológico, resgatando clássicos que já estão fora do circuito comercial ou apostando em novos temas e diretores ainda sem espaço. Diego Dominique, estudante de Letras e bolsista do projeto, afirma que “apresentar o que é diferente, pouco visto ou pouco falado, é uma forma de apresentarmos novas maneiras de ser a quem visita a sala de cinema”.

Eventualmente,  o Cine DLA  exibe filmes blockbusters (filmes atrativos, recordes de bilheteria), como aconteceu com Laranja Mecânica. Juan Pablo Chiappara Cabrera (DLA/UFV), coordenador  do projeto, conta que nestas ocasiões o papel do projeto se transforma: “Quando passamos filmes que já conversam com um grande público, o nosso foco passa a ser propor leituras diferentes da mesma história. Ao fim do filme, procuramos debater o foco e observar pontos de vista diversos do que foi apresentado. É uma maneira de atentar as pessoas para uma forma diferente de se relacionar com a sétima arte”.

Alguns filmes exibidos também conversam com públicos específicos, escolhidos através de parcerias da equipe com outros projetos. Desde o início do ano, idosos têm visitado a sala de cinema para assistir a filmes clássicos e nacionais, escolhidos em parceria com o Programa Municipal da Terceira Idade (PMTI), e estrangeiros têm tido maior contato com a língua portuguesa e a cultura brasileira por meio de produções audiovisuais nas sessões do projeto “Cine Brasil Cultural”. Juan Pablo conta que estas parcerias têm enriquecido e motivado o Cine DLA: “Nossa ideia é fazer a cultura e a produção cultural circular e estas parcerias tem agregado mais conteúdo aos debates. As experiências positivas tem nos deixado abertos a novas parcerias”.

O outro projeto de extensão que trabalha com uma perspectiva cultural do cinema é o “CineCom – Cinema e Cultura para Viçosa”. Há cinco anos, o gramado na Praça das Quatro Pilastras tem sido ocupado mensalmente com sessões de cinema abertas. Um telão é montado pela equipe e as pessoas se assentam na grama para acompanhar as projeções – para acompanhar, pipoca gratuita. Tayná Gonçalves, estudante de Comunicação Social – Jornalismo e bolsista do projeto, faz parte da equipe desde 2015 e explica a escolha do local: “O gramado é a interseção da universidade com a cidade. Ocupar este espaço é uma tentativa de que uma fronteira invisível seja quebrada e os públicos se encontrem”.

O trabalho do CineCom começa bem antes da exibição do filme e vai além da produção de um evento. Existe um trabalho de divulgação, com cartazes e spots para rádio, e uma pesquisa anterior, que dura três semanas, tempo em que são produzidos conteúdos que serão apresentados ao público: uma revista impressa e um programa audiovisual. Ambos trazem curiosidades sobre o filme exibido, sugestões de filmes semelhantes e reflexões sobre a temática proposta pelo diretor. Tayná conta que “a equipe tenta não somente trazer novas informações, mas novas linguagens e visões para apresentar o filme. É um projeto não só de transmissão de informações, mas de experimentação e representatividade”.

O cuidado com a representatividade também aparece na curadoria dos filmes exibidos no CineCom. A equipe do projeto se reúne semanalmente para discutir possibilidades, procurando fugir de escolhas óbvias e temáticas já disseminadas no grande mercado e evitando a repetição de nacionalidades de origem. Tayná Gonçalves explicita que a equipe do projeto “apresenta novas culturas e evita padrões que as pessoas encontram facilmente na televisão. Queremos oferecer novas visões de mundo, para que o público no gramado se sinta acolhido por alternativas diferentes, pela diversidade”. Além disso, Tayná acredita no “poder transformador” do cinema e da arte enquanto produções culturais: “A cultura pode criar laços, nos ajudar a nos entender, nos despertar um lado sensível ou crítico sobre os problemas da sociedade. Porque as representações que produzimos falam sobre nós, nossa sociedade, nosso tempo”.

Para saber mais sobre os projetos e acompanhar as exibições, visite as páginas Cine DLA e CineCom.

CineCom ocupa mensalmente o gramado das Quatro Pilastras com sessões de filmes gratuitas.

CineCom ocupa mensalmente o gramado das Quatro Pilastras com sessões de filmes gratuitas.