16 de outubro de 2017
A educação pode proporcionar condições para a transformação de pessoas em cidadãos. Com uma educação emancipadora podemos nos transformar em agentes capazes de interpretar o mundo, assumir protagonismos e modificar realidades. Durante o mês de outubro, o Projeção Virtual se dedicará a falar deste tema, apresentando projetos de extensão que acontecem na UFV que promovem visões necessárias sobre o ensino e a educação. Neste primeiro texto, conheça o projeto Surdo Cidadão e a proposta de incluir pessoas com deficiência auditiva.
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O direito à educação é constitucional. Qualquer pessoa, independente de suas condições físicas e mentais, é amparada pelo artigo 205 da Constituição Federal: “a educação como direito de todos, dever do Estado e da família, com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.
Contudo, os direitos previstos na Carta Magna não alcançam da mesma forma todos os cidadãos. Pessoas com deficiência ainda encontram barreiras não somente físicas e arquitetônicas para usufruir da educação, como também barreiras comunicacionais (por exemplo, a dificuldade de compreensão da língua portuguesa e o uso de metodologias não especializadas).
O projeto Surdo Cidadão foi iniciado em 2007, com o objetivo de suprir uma demanda de estudantes surdos de Viçosa. Cristiane Botelho (DMA/UFV), atual coordenadora do projeto, se envolveu com as atividades desde o início e conta que a iniciativa foi pioneira: “Na época, ainda não havia sido criado o Curso de Extensão em Língua Brasileiras de Sinais, o CELIB, e os coordenadores não tinham conhecimento de nenhuma outra atividade similar na UFV.”
O projeto começou com minicursos para a popularização da LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais. Em dois módulos de 10 horas cada, abertos ao público em geral, as pessoas participantes podem descobrir mais sobre a origem e a criação desta língua e aprendem o básico da LIBRAS, como o alfabeto, numerais e cumprimentos. Cristiane Botelho explica que a ideia do Surdo Cidadão sempre foi disponibilizar e promover a língua: “Nunca quisemos dar um curso completo. Trabalhamos com a sensibilização e a divulgação, um pontapé para as pessoas procurarem alternativas e aprofundamento. Depois dos minicursos, elas podem”.
Hoje, além dos minicursos, o Surdo Cidadão também promove o que chamam de “Ensino, Aprendizagem e Metodologias de Ensino para Surdos” ou “EAMES”. São tutorias onde jovens e adultos surdos que já terminaram o Ensino Médio têm a oportunidade de reforçar o estudo em matemática e ciências com o auxílio de dois estudantes de graduação. Cristiane Botelho afirma que pensar metodologias diferenciadas para estas pessoas é fundamental: “A LIBRAS é uma língua, como o português, o inglês, o espanhol… E a gente pensa o mundo a partir da nossa língua. A maneira de estudantes surdos, que pensam a partir de uma língua diferente, verem o mundo é outra, diferente da nossa. E eles foram colocados em salas de aula que não atenderam da melhor forma. Tentar eliminar alguns problemas relacionados a linguagem e tradução é incluir essas pessoas”.
Nestes dois encontros semanais, com duração de duas horas cada, o conteúdo estudado é aplicado na vivência cotidiana. Os estudantes experienciam acontecimentos corriqueiros (como ir ao supermercado, somar os preços e contar o troco) com a LIBRAS e as ciências. Cristiane conta que, desta forma, não é só o conhecimento da escola que está sendo aprendido: “A equipe pensa em contextos e emprega esses conteúdos. Essas lições práticas ajudam os estudantes principalmente com a sua independência”.
– Para quem se interessou, as informações sobre os minicursos e tutorias são sempre disponibilizadas pelo UFV Em Rede e na página Surdo Cidadão no Facebook: https://pt-br.facebook.com/psurdocidadaoufv/