Troca de Saberes: o diálogo entre o conhecimento científico e o popular

20 de julho de 2017


Desmistificar o saber científico é uma das maneiras pelas quais a universidade pode se aproximar e dar retorno do que produz à sociedade. Podemos observar esta tarefa sendo realizada na relação entre Extensão Universitária e Popularização da Ciência, tema da série de matérias que o Projeção Virtual publica ao longo deste mês. No primeiro texto (disponível clicando aqui) você pode saber mais sobre Popularização da Ciência. No texto anterior (disponível clicando aqui), você pode conhecer os projetos Jovem Cientista e Química em Ação. Neste texto, apresentamos a Troca de Saberes.

O diálogo entre o conhecimento científico e o conhecimento popular é central para o entendimento da Popularização da Ciência. É importante que os pesquisadores deem retorno do que têm feito para a sociedade, mas também é necessário ouvir, para entender o que as pessoas desejam e precisam, bem como descobrir realidades e conhecimentos distintos dos ensinados nas universidades.

A Troca de Saberes, evento que chegou em 2017 à sua nona edição, tem este ponto como objetivo: dar voz a povos que têm seus saberes correntemente ignorados. Comunidades quilombolas, povos originários, núcleos de agroecologia, famílias agrícolas e outros coletivos se reúnem em torno de uma agenda de discussão sobre a agroecologia e movimentos populares, sempre com metodologias que evocam a troca de experiências e o diálogo.

A estrutura do evento consiste em tendas temáticas (como a “tenda dos povos originários puris” e a “tenda dos cuidados”), todas feitas com bambus, ressaltando um caráter ecológico e de retorno a origens, além de uma tenda central, que recebe atividades ligadas à cultura (como violeiros, grupos de danças e performances) e que envolvem os grupos sociais participantes. Cada uma delas teve programações e atividades internas mediadas pelos movimentos sociais. Construídas de modo que ficassem abertas durante todo o tempo, sem portas ou cortinas, agregavam qualquer pessoa que quisesse contribuir ou participar. Irene Maria Cardoso, que colaborou com a organização do evento, explica que a Troca dá espaço para movimentos sociais e grupos minoritários “mas isso não quer dizer que pessoas que não façam parte destes grupos não possam participar. A Troca é aberta a todos que estejam dispostos a construir o novo, uma sociedade mais justa e fraterna”.

Durante os três dias de evento os grupos e movimentos conversavam nas chamadas Peneirinhas, uma novidade da edição deste ano. O objetivo é que, juntos, através do diálogo, todos consigam separar, sistematizar e organizar os interesses e as prioridades do grupo, tirando uma lição comum que servirá de ensinamento, tarefa ou direcionamento. Como numa peneira, o importante é refinar o que já se sabe – para depois compartilhar com o público maior, na Tenda Central, durante a dinâmica do Peneirão.

Da mesma maneira, momentos dedicados às instalações artístico-pedagógicas traziam rodas de conversa para discutir temas importantes e caros à agroecologia. Fotografias, cartazes, plantas, encartes, objetos e outros elementos ficavam dispostos no centro da roda e um facilitador convidava os participantes a refletir sobre o tema e compartilhar seus significados sobre o que viam e sentiam. Assim, todos dividiam seus aprendizados e repartiam suas vivências. O mais interessante para Irene Maria Cardoso é o fato desta metodologia permitir que um conhecimento novo chegue aos dois lados da conversa: “Às vezes, as pessoas que interagem com as instalações descobrem outros significados que não estavam na intencionalidade dos organizadores. É aí que acontece a descoberta, a interação dos conhecimentos.”

Para Seu Roberto, morador do assentamento Primeiro de Junho, em Tumiritinga, que promoveu uma instalação artístico-pedagógica sobre sementes crioulas, este espaço de troca é muito rico e proveitoso: “Tem muito homem de pé rachado com o poder do conhecimento e que a gente não aproveita para melhorar o bem-estar social. A melhor coisa que a Universidade já fez foi criar essa parceria entre o homem do campo e o homem da cidade”.

Instalação artístico-pedagógica sobre sementes crioulas na 9ª Troca de Saberes.