Educação para uma universidade mais aberta: o Cursinho Popular

30 de outubro de 2017


A educação pode proporcionar condições para a transformação de pessoas em cidadãos. Com uma educação emancipadora podemos nos transformar em agentes capazes de interpretar o mundo, assumir protagonismos e modificar realidades. Durante o mês de outubro, o Projeção Virtual se dedica a falar deste tema, apresentando projetos de extensão que acontecem na UFV que promovem visões necessárias sobre o ensino e a educação. Nos textos anteriores falamos sobre a proposta de incluir pessoas com deficiência auditiva e o projeto Surdo Cidadão (clique aqui para ler) e sobre um projeto de práticas educativas para uma escola pautada nos Direitos Humanos (clique aqui para ler). Hoje, o tema é a educação por uma universidade mais diversa e o Cursinho Popular.

O acesso à universidade ainda é um bem caro ao qual poucas pessoas tem garantia. É um privilégio a que pouquíssimos grupos têm acesso, mas vem sendo ampliado por meio de sistemas de cotas para pessoas em vulnerabilidade social e econômica e para negros e indígenas – grupos que têm o acesso dificultado pelo próprio sistema de ingresso às universidades como também à educação formal e aos cursinhos privados. Os cursinhos populares, geralmente articulados pelo movimento estudantil e grupos sociais organizados, tem se configurado como mais uma estratégia inclusiva. Na UFV, o Cursinho Popular, mediado pelo Diretório Central de Estudantes da UFV (DCE), utiliza diretrizes da educação popular para promover um ambiente universitário mais diverso e realmente plural desde 1998. Luana Mota, estudante de Comunicação Social e educadora de Redação do Cursinho Popular, reafirma esta função da universidade: “A Universidade aqui é feita apenas para as pessoas que vem de fora. A ideia do Cursinho é inserir na universidade pessoas de Viçosa e região e pessoas que não tenham grana”.

O fato de todos os 21 educadores do Cursinho Popular serem universitários também colabora com a desmistificação de algumas questões sobre a UFV. Luana Mota conta que alguns jovens que chegam ao Cursinho não sabiam que a universidade é gratuita, por exemplo: “Algumas pessoas desanimam da Universidade porque quando você está estudando, você não consegue trabalhar. Mas no Cursinho a gente mostra que existem auxílios para moradia, alojamento, bolsa alimentação, um trampo, como a gente que está aqui trabalhando no Cursinho… A gente tira essas dúvidas que parecem besteiras, mas quem mora longe da UFV realmente desconhece esta outra realidade”.

Os cursinhos particulares geralmente se preocupam apenas com a formação técnica ou a memorização de conceitos por parte do estudante, num sistema vertical, onde o professor é o único detentor do saber – a chamada Educação Bancária. Esta é uma perspectiva da educação inserida na ideologia neoliberal, ou seja, fornece apenas as competências necessárias para a entrada no mercado de trabalho. Já o Cursinho Popular se organiza de forma oposta, pautando-se pelos princípios freirianos de uma Educação Libertadora. Luana explica: “O principal objetivo do Cursinho não é a aprovação dos estudantes. O Cursinho é uma vivência, uma imersão no universo de educação popular, um contato próximo, horizontal, entre os educandos e os educadores. Nós observamos os pensamentos de Paulo Freire. Só estamos lá na frente da sala por uma questão de anatomia do espaço, mas todo mundo ali dentro tem sua importância”.

A troca entre educandos e educadores no Cursinho Popular é parte fundamental da metodologia do projeto. Luana conta que “não existe um saber único, vertical, uma verdade absoluta”. Espaços que utilizam metodologias de educação popular, como o Cursinho Popular, focam não apenas nos conteúdos abordados no modelo tradicional de ensino, mas também promove uma criticidade sobre a sociedade e debates sobre as opressões, questões locais, políticas, ambientais e culturais. A partir disso, os dois lados conseguem apreender coisas novas: “A gente sempre procura temas que exaltem as minorias, para valorizar os estudantes e para romper com alguns pensamentos deles, que costumam ser hegemônicos”. Nesse sentido, o Cursinho Popular entende os estudantes como conscientes e construtores da própria história e, por isso, também são estimulados a pensarem sobre cidadania, empoderamento cultural e a realidade que os envolve, desenvolvendo sua autonomia: “para todos os educadores, isto deve ser o principal: ninguém está lá para transmitir conhecimentos, mas para uma vivência compartilhada”.

Para ingressar no Cursinho Popular, fique atento aos informativos no Facebook: https://www.facebook.com/CPDCEUFV/ As vagas são abertas anualmente e novas chamadas são feitas de forma recorrente. Atualmente, o Cursinho Popular acolhe 120 educandos em 3 turmas e se dedica a jovens em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

As aulas do Cursinho Popular acontecem no CEE, prédio em frente à Biblioteca Central.

As aulas do Cursinho Popular acontecem no CEE, prédio em frente à Biblioteca Central.